Vencedora do prêmio Nobel da Paz no ano passado, a jornalista filipina Maria Ressa falou sobre o Brasil como um dos exemplos sobre a onda crescente de desinformação no mundo e como ela precisa ser combatida diariamente em vários níveis. “As eleições são críticas para o Brasil”, disse ela, que criticou ainda a condução do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia, ao participar nesta terça do SXSW, evento de inovação e cultura digital que acontece em Austin, nos Estados Unidos.
Ressa acabou participando da conferência de forma virtual. Ela tentou embarcar até o último minuto para comparecer ao evento, mas foi impedida. Ela explicou que dependia de uma votação da corte filipina que autorizasse a viagem. A vencedora do Nobel fez críticas severas à maneira como os algoritmos e as redes sociais vêm impulsionando informações falsas e como isso tem se tornado uma ameaça às democracias ao redor do mundo.
“As mentiras são exponencialmente rápidas até que tenhamos boas leis para combater isso”, disse ela. “Não são mecanismos de liberdade de expressão, mas de liberdade de distribuição”, definiu ela, ao falar da forma como as redes amplificaram a desinformação. Ressa, assim como a ex-executiva e denunciante do Facebook, Frances Haugen –- que participou do evento ontem --, afirmaram que para os países com línguas distintas do inglês, os mecanismos de controle são falhos.
O painel contou ainda com a participação do escritor Peter Pomerantsev, nascido em Kiev. Ele destacou a importância da conscientização de empresas que lidam com a tecnologia e informação, sobretudo em países em que existe controle dos conteúdos. “Há uma censura e uma enorme intimidação do público russo dentro da Rússia. Google e Apple têm o poder de entregar a verdade a todos os russos que têm um telefone alimentado por seus sistemas, essas empresas precisam entender seu papel nessa dinâmica”, disse o escritor.
Durante o painel, que foi mediado por Stephen King, CEO da organização filantrópica Luminate, os debatedores disseram que Brasil e Rússia, além dos Estados Unidos, são exemplos de locais onde a desinformação ganhou vulto e poder. Ressa destacou ainda a importância do jornalismo independente e da checagem de fatos como cruciais neste ano em que várias eleições importantes estão em curso. Nas Filipinas, o pleito acontece em 54 dias.
“Os perigos aumentaram muito”, disse Ressa. “Estamos tentando encontrar uma nova maneira para a sociedade civil, mídia, organizações empresariais e religiosos lidarem com as mentiras exponenciais. Espero que seja suficiente, porque, se não, os dominós voltam a cair e fica muito mais difícil nos recuperarmos.”
O SXSW retorna este ano ao formato presencial, após interrupção de dois anos pela pandemia, e acontece entre 11 e 20 de março, em Austin, Texas, nos EUA. (do Valor Econômico)
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